Xcel Energy Venderá Água no Vale do Rio Arkansas: Negócio de US$ 44 Milhões Pode Transformar Agricultura e Abastecimento

A volta da água ao campo: um modelo que pode inspirar o futuro do Colorado

A Xcel Energy anunciou um acordo histórico que pode redefinir a relação entre energia, agricultura e conservação no Colorado. Avaliada em mais de US$ 44 milhões, a transação prevê a venda de 12.500 acres-pés de direitos de água para uma nova empresa de irrigação formada por agricultores e pela Colorado Springs Utilities.

O objetivo é devolver à comunidade agrícola do Vale do Rio Arkansas um recurso vital que, por décadas, foi utilizado sob arrendamentos temporários pela própria Xcel. Agora, os agricultores terão controle direto sobre sua água — um passo visto como essencial para proteger a economia agrícola da região.

Por que essa venda é tão importante?

A água é considerada o "ouro azul" do século XXI. No Colorado, onde as secas são recorrentes e o crescimento urbano pressiona ainda mais os recursos hídricos, cada decisão sobre direitos de água pode moldar o futuro de cidades e comunidades rurais.

A Xcel havia adquirido essa água nos anos 1980 para um projeto de usina a carvão que nunca foi construído. Desde então, o recurso vinha sendo arrendado anualmente a produtores locais. Agora, com o fechamento progressivo das usinas a carvão e a reconfiguração do setor energético, a empresa optou por transferir a posse definitiva para agricultores e parceiros locais.

“Isso significa que a água permanecerá no Vale do Arkansas”, destacou Jennifer Jordan, porta-voz da Colorado Springs Utilities.

Detalhes do acordo

• Valor estimado: US$ 44,6 milhões

• Volume de água: 12.500 acres-pés (equivalente a 4 bilhões de galões)

• Nova empresa de irrigação: 70% de propriedade de agricultores locais e 30% da Colorado Springs Utilities

• Finalidade: irrigação agrícola, com parte destinada ao abastecimento urbano de Colorado Springs

• Áreas beneficiadas: cerca de 4.100 acres de produção continuarão ativos após ajustes necessários no sistema de canais

Essa nova estrutura envolve a fusão de sistemas de irrigação históricos (Consolidated Canal e Extension Canal) e deve servir de modelo para futuros acordos em que terras agrícolas e comunidades locais tenham prioridade sobre especulações ou vendas exclusivamente urbanas.

Impactos econômicos e sociais

O Vale do Rio Arkansas sofreu nas últimas três décadas uma redução de 30% em suas terras irrigadas, resultado de secas, mudanças climáticas e aquisições de água por cidades em expansão. Esse acordo pode frear esse processo, fortalecendo a base agrícola e evitando o esvaziamento econômico da região.

Além disso, a posse majoritária por agricultores cria um novo tipo de governança: eles poderão decidir, ano a ano, como usar sua água, garantindo autonomia e maior resiliência frente às crises hídricas.

Ainda assim, alguns produtores se mostram cautelosos. “Se não houver uma ligação perpétua da água à terra, ainda corremos riscos no futuro”, alertou Jack Goble, do Lower Arkansas Valley Water Conservancy District.

O que muda para o futuro do Colorado

Este acordo não é apenas uma transação comercial. Ele simboliza um novo paradigma de cooperação entre empresas de energia, agricultores, conservacionistas e cidades.

A Xcel, que também negocia a venda de grandes volumes de água na encosta oeste do Colorado, pode ter estabelecido um precedente para como os recursos hídricos oriundos de usinas a carvão aposentadas podem ser reintegrados às comunidades locais.

Rebecca Jewett, presidente da Palmer Land Conservancy, destacou que esse é um momento crucial: “Nosso objetivo final é criar vínculos duradouros entre a água e a terra, protegendo a agricultura irrigada para as próximas gerações”.

O negócio entre a Xcel Energy, os agricultores e a Colorado Springs Utilities pode marcar o início de uma nova era para o manejo da água no Colorado. Mais do que um acordo de US$ 44 milhões, trata-se de um investimento no futuro da agricultura, da sustentabilidade e da própria identidade do Vale do Rio Arkansas.

Se este modelo prosperar, ele poderá inspirar outras regiões em conflito entre o crescimento urbano e a preservação da base agrícola. Afinal, devolver a água para o solo não é apenas uma questão econômica: é uma oportunidade de equilibrar desenvolvimento e tradição.

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